Inicialmente, as teorias das redes encontravam-se
principalmente nos trabalhos de Euler, um matemático que criou o primeiro
teorema da teoria dos grafos. Esse
tipo de concepção das coisas como rede seria essencial para a compreensão das
relações complexas do mundo.
A análise das redes sociais é feita através de duas grandes
visões do objeto de estudo: as redes inteiras, as quais focam na relação
estrutural da rede com o grupo social, sendo assinaturas de identidade social
onde o padrão de relações entre os indivíduos mapeia as preferências envolvidas
na rede, e as redes personalizadas que tem um foco no papel social do indivíduo
não apenas através dos grupos (redes) a que pertencem, mas também através das
posições que ele tem nessas redes. Garton, fala que a análise das redes sociais
tem como foco principal os padrões de relações entre as pessoas. Com o intuito
de ir além dos atributos individuais, a análise das redes sociais busca novas
“unidades de análise”, como: relações (conteúdo), laços sociais (concepção de
pares de atores através de relações), multiplexidade (quanto mais relações um
laço possui, mais multiplexidade ele tem), composição do laço social (derivada
dos atributos individuais dos atores envolvidos). A análise das redes sociais
tem como foco a interação, que irá estabelecer as relações sociais entre os
agentes humanos, originando as redes sociais, no mundo concreto e no mundo
virtual. Isso acontece porque em uma rede social, as pessoas são os nós e as
arestas são feitas através dos laços sociais.
Nos últimos anos, tem sido dada uma atenção às redes
complexas. Segundo Watts, a diferença é que anteriormente as redes eram vistas
como estruturas fixadas no tempo, porém, hoje leva-se em conta a dinamicidade
dessas redes, estando elas em constante mudança. De acordo com Paul Erdos e
Alfred Rényi, ambos matemáticos, as redes demonstraram que bastava uma conexão
entre cada uma das pessoas de uma festa, para que todos estivessem conectados
ao final dela. Eles também atentaram para outro fato, quanto mais links eram
adicionados, maior a probabilidade de grupos de nós mais conectados,
acreditando que esses nós eram conectados através do processo de formação dos
grafos randômico, no sentido de que esses nós se agregavam aleatoriamente.
Quando se observa as redes sociais como interdependentes uma
das outras, percebe-se que as pessoas estariam interligadas umas às outras em
algum nível. Percebendo isso, o sociólogo Stanley Milgram realizou um
experimento o qual ele enviava uma quantidade de cartas a vários indivíduos,
aleatoriamente, solicitando que tentassem enviar a um alvo específico.
Descobriu-se que das cartas que chegaram ao destinatário final, a maioria havia
passado por um pequeno número de pessoas, indicando que as pessoas estariam a
poucos graus uma da outra, vivendo em um “mundo pequeno”. Outra contribuição
para o problema da estruturação das redes sociais, foi dado por Mark
Granovetter, ao descobrir que os laços fracos seriam muito mais importantes na
manutenção social que os laços fortes, pelo fato de que as pessoas
participantes do laço fraco se conectam a vários grupos sociais. Ou seja, cada
pessoa tem amigos ou conhecidos em vários lugares do mundo, mostrando a
existência de poucos graus de separação.
O primeiro problema da teoria dos mundos pequenos foi
explicado por Barabási, falando que as redes não eram formadas de modo
aleatório, existindo uma ordem dinâmica de estruturação, ou seja, quanto mais
conexões um nó possui, maiores as chances de ele ter mais novas conexões.
Chamou essa característica de preferential attachment ou conexão preferencial,
onde um novo nó tende a se conectar com um nó pré-existente, mas mais
conectado. Isso implica em outra premissa fundamental, de que as redes não
seriam constituídas de nós igualitários, tendo a possibilidade de ter, mais ou
menos, o mesmo número de conexões. Na vida real, as redes costumam exibir um
grau de distribuição (conectividade) variado, que não necessariamente funcionam
nos modelos existentes. Tendo em vista essa análise, os modelos dariam conta do
fenômeno das redes sociais na Internet?Para entender a validade dos modelos
apresentados, serão expostos a diante alguns exemplos de sistemas que poderiam
auxiliar a observação das redes sociais na Internet.
Inicialmente, um software chamado Orkut oferece as primeiras
pistas para o desenvolvimento da análise. Mostrando os indivíduos através de perfis,
é possível perceber suas conexões diretas (amigos) e indiretas (amigos dos
amigos), assim como as organizações sob a forma de comunidades. Aparentemente,
o Orkut parece demonstrar a existência de redes sociais amplas, altamente conectadas,
com um grau de separação bastante pequeno, exatamente como o previsto no modelo
de Watts e Strogatz. Porém, através de uma observação um pouco mais detalhada, percebe-se
que a maioria das "distâncias" entre os membros do sistema é reduzida
pela presença de alguns indivíduos, que são "amigos de todo mundo". Seriam
os hubs, pessoas altamente conectadas, com um vasto número de amigos, contribuindo
significativamente para a queda da distância entre os indivíduos no sistema. Uma
análise mais profunda, observará que a aplicação do modelo de Barabási
apresenta alguns problemas, visto o fato de que nem todos os amigos são
realmente "amigos", por ser possível adicionar alguém sem ter com
essa pessoa qualquer tipo de interação, tornando a maioria dessas conexões
falsas e consequentemente não representativa no sentido de demonstrar a existência
de uma rede social. Poderia então o Orkut ser classificado como uma rede
social? A verdade é que, para o sistema, essas pessoas são conectores. Porém,
essas redes não poderiam ser consideradas a priori redes sociais, pois em sua formação
(ato de adicionar pessoas) elas dispensam interação. Portanto, eles só funcionam
como hubs no sistema do Orkut.
Ainda assim, podería-se discutir que a interação social
estaria nas comunidades e que elas também podem ser hubs, por abrangerem um
grande número de participantes, conectando entre si, também, outras
comunidades, ao mesmo tempo que não há interação. Percebe-se no Orkut que o mesmo possui hubs que parecem
estabelecer-se a partir da ordem de "ricos ficarem mais ricos", na
medida em que as pessoas e comunidades mais populares continuam populares através
do tempo, constituindo redes sem escalas. O que se pode observar é a existência
de algum tipo de "conexão preferencial" com relação a atitude dos
novos nós de procurarem "conhecidos" e tentar adicioná-los como
amigos, na tentativa de reproduzir redes sociais do mundo offline. Sendo assim,
não se torna possível dizer até que ponto essas distâncias sociais entre os
indivíduos são realmente válidas porque a maioria das conexões não pressupõe
uma interação social.
Blogs e Fotologs também representam um campo interessante de
estudo das redes sociais, pelo fato deles possuírem uma lista de "amigos"ou
"blogs/fotologs" favoritos, além de mecanismos de interação, como ferramenta de
comentários, trackbacks e emails. Eles podem representar redes sociais, a
partir do momento em que cada weblog ou fotolog representa um indivíduo (ou um
grupo) e a exposição de sua individualidade, como cita Recuero. Novamente, precisará
ser feita uma pequena dissociação entre os blogs/fotologs enquanto redes
sociais e enquanto redes de websites. Nesses sistemas é fácil observar a interação,
na medida em que as pessoas "conversam" através de comentários. Sendo
assim, cada comentário poderia representar uma nova conexão, mas isto não pode
ser realizado a partir do momento em que surgem comentários negativos, causando
uma retração do indivíduo. Portanto, nem todo o comentário representa uma nova
conexão, uma relação aditiva de links. Surge um novo problema no modelo de
Barabási, a medida em que se preocupavam com a dinâmica e as propriedades
estruturais das redes, todos parecem ter esquecido que essas propriedades são determinadas
pelas interações em si, que geram ou destroem conexões. A comunicação mediada
pelo computador pode ser muito eficiente no estabelecimento de laços sociais por
facilitar sua manutenção. Basta um comentário em um blog ou fotolog que já se
mantém um laço social existente. Dessa forma, blogs e fotologs podem deixar o
mundo ainda menor, seguindo o modelo dos mundos pequenos. As conexões não são
feitas de modo aleatório, elas são feitas de modo intencional, onde as pessoas
escolhem a quem se conectar, levando em conta valores específicos (capital
social de um grupo ou indivíduo). Dessa forma, os nós não têm a mesma chance de
receber comentários e links por não se tratar de uma rede igualitária. Nem todas
as interações têm o mesmo peso e a mesma direção. Muitas sequer são construtivas.
Conclui-se que os modelos de análise das redes propostos por
Erdös e Rényi, Watts e Strogatz e Barabási são insuficientes para perceber as
complexidades de uma rede social na Internet. O modelo de Erdös e Rényi, que
apresenta uma rede aleatória, merece seu mérito por ter visto as redes sociais
como dinâmicas, porém, as relações entre os indivíduos não são aleatórias, pelo
contrário, as pessoas levam em conta diversos fatores ao conectar-se a outro
alguém. O modelo de Watts e Strogatz, apesar de apresentar uma construção
importante acerca da clusterização e o valor das pequenas conexões não observa
pontos fundamentais, como: a motivação dessas conexões, o teor das interações e
laços sociais estabelecidos entre os nós e sua influência na rede. O modelo de
Barabási traz uma importante ideia no sentido de prever o mecanismo de
construção das redes, mas não leva em conta o custo de manutenção dos laços
sociais, o contexto social e o capital social envolvido em cada interação.
Percebe-se então que, todos os modelos apresentam falhas na aplicação às redes
sociais na Internet, em maioria, devido à sua natureza matemática e pouco
investigativa do teor das conexões e da não presunção de interação para a
constituição do laço social.
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