segunda-feira, 13 de abril de 2015

Redes Sociais na Internet: Considerações Iniciais - Raquel da Cunha Recuero (Resumo)

Inicialmente, as teorias das redes encontravam-se principalmente nos trabalhos de Euler, um matemático que criou o primeiro teorema da teoria dos grafos. Esse tipo de concepção das coisas como rede seria essencial para a compreensão das relações complexas do mundo.

A análise das redes sociais é feita através de duas grandes visões do objeto de estudo: as redes inteiras, as quais focam na relação estrutural da rede com o grupo social, sendo assinaturas de identidade social onde o padrão de relações entre os indivíduos mapeia as preferências envolvidas na rede, e as redes personalizadas que tem um foco no papel social do indivíduo não apenas através dos grupos (redes) a que pertencem, mas também através das posições que ele tem nessas redes. Garton, fala que a análise das redes sociais tem como foco principal os padrões de relações entre as pessoas. Com o intuito de ir além dos atributos individuais, a análise das redes sociais busca novas “unidades de análise”, como: relações (conteúdo), laços sociais (concepção de pares de atores através de relações), multiplexidade (quanto mais relações um laço possui, mais multiplexidade ele tem), composição do laço social (derivada dos atributos individuais dos atores envolvidos). A análise das redes sociais tem como foco a interação, que irá estabelecer as relações sociais entre os agentes humanos, originando as redes sociais, no mundo concreto e no mundo virtual. Isso acontece porque em uma rede social, as pessoas são os nós e as arestas são feitas através dos laços sociais.

Nos últimos anos, tem sido dada uma atenção às redes complexas. Segundo Watts, a diferença é que anteriormente as redes eram vistas como estruturas fixadas no tempo, porém, hoje leva-se em conta a dinamicidade dessas redes, estando elas em constante mudança. De acordo com Paul Erdos e Alfred Rényi, ambos matemáticos, as redes demonstraram que bastava uma conexão entre cada uma das pessoas de uma festa, para que todos estivessem conectados ao final dela. Eles também atentaram para outro fato, quanto mais links eram adicionados, maior a probabilidade de grupos de nós mais conectados, acreditando que esses nós eram conectados através do processo de formação dos grafos randômico, no sentido de que esses nós se agregavam aleatoriamente.

Quando se observa as redes sociais como interdependentes uma das outras, percebe-se que as pessoas estariam interligadas umas às outras em algum nível. Percebendo isso, o sociólogo Stanley Milgram realizou um experimento o qual ele enviava uma quantidade de cartas a vários indivíduos, aleatoriamente, solicitando que tentassem enviar a um alvo específico. Descobriu-se que das cartas que chegaram ao destinatário final, a maioria havia passado por um pequeno número de pessoas, indicando que as pessoas estariam a poucos graus uma da outra, vivendo em um “mundo pequeno”. Outra contribuição para o problema da estruturação das redes sociais, foi dado por Mark Granovetter, ao descobrir que os laços fracos seriam muito mais importantes na manutenção social que os laços fortes, pelo fato de que as pessoas participantes do laço fraco se conectam a vários grupos sociais. Ou seja, cada pessoa tem amigos ou conhecidos em vários lugares do mundo, mostrando a existência de poucos graus de separação.

O primeiro problema da teoria dos mundos pequenos foi explicado por Barabási, falando que as redes não eram formadas de modo aleatório, existindo uma ordem dinâmica de estruturação, ou seja, quanto mais conexões um nó possui, maiores as chances de ele ter mais novas conexões. Chamou essa característica de preferential attachment ou conexão preferencial, onde um novo nó tende a se conectar com um nó pré-existente, mas mais conectado. Isso implica em outra premissa fundamental, de que as redes não seriam constituídas de nós igualitários, tendo a possibilidade de ter, mais ou menos, o mesmo número de conexões. Na vida real, as redes costumam exibir um grau de distribuição (conectividade) variado, que não necessariamente funcionam nos modelos existentes. Tendo em vista essa análise, os modelos dariam conta do fenômeno das redes sociais na Internet?Para entender a validade dos modelos apresentados, serão expostos a diante alguns exemplos de sistemas que poderiam auxiliar a observação das redes sociais na Internet.

Inicialmente, um software chamado Orkut oferece as primeiras pistas para o desenvolvimento da análise. Mostrando os indivíduos através de perfis, é possível perceber suas conexões diretas (amigos) e indiretas (amigos dos amigos), assim como as organizações sob a forma de comunidades. Aparentemente, o Orkut parece demonstrar a existência de redes sociais amplas, altamente conectadas, com um grau de separação bastante pequeno, exatamente como o previsto no modelo de Watts e Strogatz. Porém, através de uma observação um pouco mais detalhada, percebe-se que a maioria das "distâncias" entre os membros do sistema é reduzida pela presença de alguns indivíduos, que são "amigos de todo mundo". Seriam os hubs, pessoas altamente conectadas, com um vasto número de amigos, contribuindo significativamente para a queda da distância entre os indivíduos no sistema. Uma análise mais profunda, observará que a aplicação do modelo de Barabási apresenta alguns problemas, visto o fato de que nem todos os amigos são realmente "amigos", por ser possível adicionar alguém sem ter com essa pessoa qualquer tipo de interação, tornando a maioria dessas conexões falsas e consequentemente não representativa no sentido de demonstrar a existência de uma rede social. Poderia então o Orkut ser classificado como uma rede social? A verdade é que, para o sistema, essas pessoas são conectores. Porém, essas redes não poderiam ser consideradas a priori redes sociais, pois em sua formação (ato de adicionar pessoas) elas dispensam interação. Portanto, eles só funcionam como hubs no sistema do Orkut.

Ainda assim, podería-se discutir que a interação social estaria nas comunidades e que elas também podem ser hubs, por abrangerem um grande número de participantes, conectando entre si, também, outras comunidades, ao mesmo tempo que não há interação. Percebe-se  no Orkut que o mesmo possui hubs que parecem estabelecer-se a partir da ordem de "ricos ficarem mais ricos", na medida em que as pessoas e comunidades mais populares continuam populares através do tempo, constituindo redes sem escalas. O que se pode observar é a existência de algum tipo de "conexão preferencial" com relação a atitude dos novos nós de procurarem "conhecidos" e tentar adicioná-los como amigos, na tentativa de reproduzir redes sociais do mundo offline. Sendo assim, não se torna possível dizer até que ponto essas distâncias sociais entre os indivíduos são realmente válidas porque a maioria das conexões não pressupõe uma interação social.

Blogs e Fotologs também representam um campo interessante de estudo das redes sociais, pelo fato deles possuírem uma lista de "amigos"ou "blogs/fotologs" favoritos, além de  mecanismos de interação, como ferramenta de comentários, trackbacks e emails. Eles podem representar redes sociais, a partir do momento em que cada weblog ou fotolog representa um indivíduo (ou um grupo) e a exposição de sua individualidade, como cita Recuero. Novamente, precisará ser feita uma pequena dissociação entre os blogs/fotologs enquanto redes sociais e enquanto redes de websites. Nesses sistemas é fácil observar a interação, na medida em que as pessoas "conversam" através de comentários. Sendo assim, cada comentário poderia representar uma nova conexão, mas isto não pode ser realizado a partir do momento em que surgem comentários negativos, causando uma retração do indivíduo. Portanto, nem todo o comentário representa uma nova conexão, uma relação aditiva de links. Surge um novo problema no modelo de Barabási, a medida em que se preocupavam com a dinâmica e as propriedades estruturais das redes, todos parecem ter esquecido que essas propriedades são determinadas pelas interações em si, que geram ou destroem conexões. A comunicação mediada pelo computador pode ser muito eficiente no estabelecimento de laços sociais por facilitar sua manutenção. Basta um comentário em um blog ou fotolog que já se mantém um laço social existente. Dessa forma, blogs e fotologs podem deixar o mundo ainda menor, seguindo o modelo dos mundos pequenos. As conexões não são feitas de modo aleatório, elas são feitas de modo intencional, onde as pessoas escolhem a quem se conectar, levando em conta valores específicos (capital social de um grupo ou indivíduo). Dessa forma, os nós não têm a mesma chance de receber comentários e links por não se tratar de uma rede igualitária. Nem todas as interações têm o mesmo peso e a mesma direção. Muitas sequer são construtivas.


Conclui-se que os modelos de análise das redes propostos por Erdös e Rényi, Watts e Strogatz e Barabási são insuficientes para perceber as complexidades de uma rede social na Internet. O modelo de Erdös e Rényi, que apresenta uma rede aleatória, merece seu mérito por ter visto as redes sociais como dinâmicas, porém, as relações entre os indivíduos não são aleatórias, pelo contrário, as pessoas levam em conta diversos fatores ao conectar-se a outro alguém. O modelo de Watts e Strogatz, apesar de apresentar uma construção importante acerca da clusterização e o valor das pequenas conexões não observa pontos fundamentais, como: a motivação dessas conexões, o teor das interações e laços sociais estabelecidos entre os nós e sua influência na rede. O modelo de Barabási traz uma importante ideia no sentido de prever o mecanismo de construção das redes, mas não leva em conta o custo de manutenção dos laços sociais, o contexto social e o capital social envolvido em cada interação. Percebe-se então que, todos os modelos apresentam falhas na aplicação às redes sociais na Internet, em maioria, devido à sua natureza matemática e pouco investigativa do teor das conexões e da não presunção de interação para a constituição do laço social.